Sunday, 19 August 2012

Bípede, incoerente e hipócrita!


     Bom, esse vai ser meu primeiro post sobre vegetarianismo então já adianto que ele vai ser longo e provavelmente chato. Chato pra quem não suporta vegetarianos, e chato pra vegetarianos em sua maioria também. Então vai ser chato pra, digamos... 90% das pessoas? Talvez mais... 

     Eu acabei de ver um post qualquer no facebook que dizia: “essa alface morreu pra que você pudesse ser vegetariano. Tenha compaixão, coma pedras.”

Eu vejo alfaces mortas...

     Tá. Não comentei no post, mesmo porque não faz muito sentido discutir vegetarianismo com quem não tá nem um pouco interessado em se tornar vegetariano ao ponto de postar um banner explicitamente atacando o vegetarianismo. Pra quê discutir com esse povo? Não leva a nada, só nos desgasta e, pra ser sincero, só vai nos deixar com mais fama de chatos (se isso for possível). Então recomendo que, se a pessoa não for sua amiga, não responda. Se ela for próxima, eu sei que é difícil não se revoltar com uma abobrinha dessas, mas talvez valha a pena ignorar. Eu não sei se falaria nada diretamente pra pessoa. Talvez eu escrevesse no meu blog, como estou fazendo agora para aliviar a tensão e assim, conseguir dormir em paz.

     Eu sei que a maior parte das pessoas SABE muito bem a diferença entre uma alface e uma vaca. E, não sei se falo por todo vegetariano, mas eu não me importo em nada com a morte. De uma alface, de um cachorro, de um gato ou de um ser humano. Morrer é um processo super natural e todo mundo sabe que faz parte do ciclo da vida. “O caminho da vida é a morte”. Então, morte por morte, foda-se. Sério. O problema pra mim é o sofrimento e privações que os animais criados pra consumo são forçados a passar. Sofrimento DESNECESSÁRIO porque NÃO precisamos de carne pra viver. Se você tem alguma dúvida, consulte um especialista, vá ao nutricionista. Se você quer ver artigos científicos a respeito, procure no Google scholar que você vai encontrar super fácil. Ainda, pode descobrir que uma dieta vegetariana diminui o risco de diversos tipos de câncer e de problemas do coração – entre outros. Então, ser vegetariano nem só é possível como te faz bem. É claro que eu não estou falando isso pro indígena ou aborígene que vive no meio do mato e tem uma opção de dieta super restrita. Estou falando isso pra quem está lendo o meu blog num computador, que com certeza tem acesso a um supermercado com várias opções de legumes, frutas e cereais. Então ninguém nessas condições deveria ser ignorante ao que se refere a não necessidade de carne para sobreviver (e ser saudável).

     Então, esse é o meu ponto. Se carne fosse um mal necessário, se fossemos estritamente carnívoros ou mesmo se tivéssemos alguns mínimos prejuízos à saúde por não comer carne, eu não defenderia o vegetarianismo. Mas não é esse o caso. Somos onívoros. Podemos optar. E melhor, podemos optar por não sermos responsável pelo sofrimento dos animais de produção. 

“E quem disse que eu me importo se os bichinhos sofrem?? Minha comida caga na sua comida! hahahaha!”

Nossa, que sinistro, sua comida é mesmo muito foda... ela, tipo... caga... né?

     Se você pouco se importa com o sofrimento animal e se você ainda acha muito engraçado e sinistro o fato da sua comida cagar, pense no mundo. Você realmente acha que o consumo de carne é ecologicamente viável? Existem vários estudos nesse sentido também, comparando o custo ecológico de ser vegetariano ou onívoro. Vou disponibilizar dois deles para quem tiver interesse.

Leitzmann, C. 2003 -  “One of the most effective ways to achieve the goals of nutrition ecology, including healthy and sustainable food choices, is a vegetarian lifestyle” (“Um dos modos mais efetivos de alcançar os objetivos da nutrição ecológica, incluindo saúde e escolhas de comidas sustentáveis, é um modo de vida vegetariano”)

Baroni, L. et al. 2007 -  “Owing to their lighter impact, confirmed also by our study, vegetarian and vegan diets could play an important role in preserving environmental resources and in reducing hunger and malnutrition in poorer nations” (“Com os menores impactos, confirmados também pelo nosso estudo, as dietas vegetarianas e vegans devem ter um papel umportante na preservação de recursos ambientais e redução da fome e má-nutrição nas nações mais pobres”)

     Agora, se você também não se importa com a pobreza alheia ou com a perda de biodiversidade e está pouco se lixando para todos os problemas ambientais causados pela produção animal... acontece, né? Fazer o que? Pessoas se importam e se interessam por coisas diferentes. Mas pensa bem, você pode concordar com as ideias, sem precisar segui-las ou defendê-las. Entende? Não é porque você não é vegetariano que você tem que se tornar anti-vegetarianismo. Não é porque eu quero a cura da AIDS que eu vou me tornar uma médica pra dedicar minha vida para isso. Mas nem por isso vou criticar quem o faz. (nossa, essa analogia foi meio tosca, mas tudo bem...)

     Se você se importa um pouquinho (ou com o mundo ou com os animais), mas acha churrasquinho a maravilha dos deuses e colocou na sua cabeça que não consegue ser vegetariano (mesmo sem nunca ter tentado – ou ter tentado por 2 dias...), então reduza! Coma menos carne, coma carne só nos finais de semana, ou então só em 1 refeição do dia – tipo almoço ou jantar. Não precisa colocar presunto no sanduíche pra ele ficar gostoso... comece a ser criativo, vai inventando e procurando receitas legais que não levem carne.

     Eu garanto que o paladar melhora (bom, melhora eu posso estar sendo tendenciosa, mas muda com certeza...), e você vai conseguir sentir melhor o gosto dos alimentos e valorizar os vegetais de uma forma diferente. Quem sabe assim depois de um tempo não seja mais fácil cortar a carne de vez? Ou não... só reduzir ao mínimo, que seja!

   Você já foi a algum restaurante vegetariano? Vá, experimente! Porque não? Não precisa ser escravo da carne pra conseguir ter uma refeição super gostosa. Quem sabe uma lasanha de espinafre, ou uma torta de palmito? Nhoque ao molho sugo, risoto de cogumelos... não parece gostoso? – Acho que tô com fome... 

Horácio fofo - ondejáseviu um tiranossauro rex vegetariano?


“Ai, vegetarianos parecem um bando de religiosos, tentando converter os outros, que saco!”

     Pois é, eu acho justamente o contrário. Vegetarianos parecem muito mais ateus, se libertando de hábitos da nossa sociedade e querendo um mundo mais justo.

    Eu sei que alguns vegetarianos podem estar num processo difícil de auto-afirmação e querem ser os donos da verdade. É difícil mesmo, porque a gente fica revoltada de certa forma. E muitos acham absurdo até você fazer o que está ao seu alcance, como reduzir a carne do seu cardápio. E querem que você pare totalmente, inclusive com leite, ovos e mel. E te chamam de hipócrita e incoerente, e pior pessoa do mundo por isso.

     Não, você não é a pior pessoa. Hipocrisia é uma palavra estranha pra mim, porque ela carrega um significado tão negativo, quando na verdade não deveria. Chamar alguém de hipócrita é uma das piores coisas que você pode fazer pra essa pessoa. Mas todo mundo é hipócrita e ser hipócrita ou ser chamado disso não deveria nem de longe ser uma ofensa. Deveria ser uma característica, como sei lá... ser bípede. “Seu bípede!” – não sei por que, a palavra bípede pra mim parece muito mais um xingamento que hipócrita.

     Enfim, o que eu quero dizer é que somos seres incoerentes e hipócritas, e o máximo que a gente faz é tentar minimizar isso. Eu como queijo. Já tentei várias vezes parar, já fiquei 8 meses sem nada animal, mas voltei a comer. Eu como ovos, mas procuro comprar o free range, que é um pouquinho mais caro, mas já tive a oportunidade inclusive de ver, e as galinhas vivem soltinhas e ciscando pra lá e  pra cá. Me dá mais alegria no coração desse jeito. Mas mesmo assim, o queijo ainda me dói. Meu sonho é ter minha fazendinha com minha vaquinha e minhas galinhas. Mas enquanto isso, vou seguindo na minha hipocrisia de cada dia.

Sunday, 20 May 2012

Mulheres de verdade!


     Eu não me considero uma feminista ativista, mas de vez em quando eu me pego questionando nossas próprias atitudes (das mulheres) e me decepciono de certa forma.

     Não é uma coisa simples tentar entender o que nos leva a postar figuras machistas no facebook, ou divulgar emails com mensagens machistas contra nós mesmas! Eu vou postar um exemplo de um email que eu recebi ontem:

"Uma noite, na semana passada, minha mulher e eu estávamos indo para a cama. 
Bem, começamos a ficar a vontade, fazer carinhos, provocações, o maior T
ESÃO e, nesse momento, ela parou e me disse: 
- Acho que agora não quero, só quero que você me abrace.... 
Eu falei: - O QUEEE??? 
Ela falou: - Você não sabe se conectar com as minhas necessidades emocionais como mulher
Comecei a pensar no que podia ter falhado.

No final, assumi que aquela noite não ia rolar nada, virei e dormi. No dia seguinte, fomos ao shopping. 
Entramos em uma grande loja de departamentos.
Fui dar uma volta enquanto ela experimentava três modelitos caríssimos. Como estava difícil escolher entre um ou outro, falei para comprar os três.
Então, ela me falou que precisava de uns sapatos que combinassem a R$ 200,00 cada par.
Respondi que tudo bem. 
Depois fomos a seção de joalheria, onde gostou de uns brincos de diamantes e eu concordei que comprasse.
Estava tão emocionada! Deveria estar pensando que fiquei louco.
Acho até que estava me testando quando pediu uma raquete de tênis, porque nem tênis ela joga.
Acredito que acabei com seus esquemas e paradigmas quando falei que sim.

Ela estava quase excitada sexualmente depois de tudo isso.
Vocês tinham que ver a carinha dela, toda feliz! 
Quando ela falou: - Vamos passar no caixa para pagar, amor? 
Daí eu disse: - Acho que agora não quero mais comprar tudo isso, meu bem...
Só quero que você me abrace.

Ela ficou pálida.
No momento em que começou a ficar com cara de querer me matar, falei:

- Você não sabe se conectar com as minhas necessidades financeiras de homem....
 
Vinguei-me! Mas acredito que o sexo acabou pra mim até o Natal de 2012!"
 
     Eu juro que não sei se era pra ser engraçado, ou eu devo ter perdido meu senso de humor... O problema desse tipo de “piada”, ou de algumas propagandas é que exaltam a mulher como consumista e, muito pior, dependente financeiramente dos homens. É ainda aquela antiga ideia que o homem é o provedor da casa e a mulher só serve pra gastar seu suado dinheirinho em coisas fúteis como sapato, roupas e maquiagem.

"Seu cartão de crédito estorou. Mas sua mulher ficou linda." (???) Non sequitur...

     Eu sei que muitas mulheres amam sapato (eu particularmente acho um saco ter que comprar sapato), mas não é essa a questão. As mulheres são independentes e podem comprar seus próprios sapatos/maquiagem e pagar o salão de beleza com seu salário! Não precisa de um homem com um cartão de crédito pra elas dependerem.

     Eu lembrei de outro tipo de propaganda, não relacionada a consumo, mas ao “papel da mulher como mantedora do lar”. Tipo de sabão em pó, ou de detergente. Homem, aparentemente, não se preocupa com essas coisas, isso é coisa de mulher...

     Eu não sei o que esses marqueteiros tem na cabeça! Eu acho que muitos homens se preocupam muito mais que as mulheres com esse tipo de coisa. O Fabricius, por exemplo, é um saco pra escolher sabão em pó porque ele não quer que as camisas pretas dele fiquem manchadas de sabão. Eu escolho o mais barato mesmo e tá ótimo! Esse tipo de propaganda parte de uma generalização dos anos 50 que é falha nos dias de hoje! Muitos homens hoje vivem sozinhos e se preocupam sim com qualidade de produtos domésticos. E muitas mulheres não se preocupam com essas coisas. Eu sou uma delas.

     Outro tipo de coisa que eu acho chato são aquelas figuras do facebook do tipo “mulheres de verdade e piriguetes” ou “mulheres pra casar e mulheres pra ficar”, tipo essa aqui:


    Eu até entendo a cabeça machista dos homens de categorizar as mulheres desse jeito. Tá, na verdade não entendo não. Mas o que é mais perturbador é que a maioria que divulga essas coisas são as próprias mulheres!!! Não existem categorias ao se julgar apenas pela aparência e pelo apetite sexual. Mulheres bem resolvidas que querem dar na primeira noite não são de uma categoria inferior ao tipo “Sandy” hipócrita de “mulheres para casar”!! A gente tem que entender que se valorizar é se respeitar. E se respeitar é fazer aquilo que você se sente bem. Se você gosta de sexo e quer dar na primeira noite, que seja! Se você gosta de usar uma saia curta e mostrar suas pernas, que use!  
  
    Os tempos mudaram e nós temos nossa liberdade sexual e podemos dar pra quem quisermos e bem entender! É claro que eu não estou defendendo traição, fidelidade é um acordo entre duas pessoas. Mas se basear no quanto a mulher é gostosa, ou curte vestir roupas provocantes pra classificá-la numa categoria oposta a “mulheres de verdade” só pode ser machismo. Machismo feminino ainda por cima!
     
    Só pra ter uma ideia da gravidade do problema, dá uma olhadinha nesse fórum.

    Eu acho o cúmulo ter que ler isso! Vou fazer uma montagem de homem pra pegar e fazer sexo e homem pra casar. Vamos ver se agrada... Ou melhor...


Saturday, 19 May 2012

Resenha atual de 10 anos atrás


     Hoje eu assisti o filme “Irreversível” (Irreversible), é aquele filme que foi super polêmico na época (há 10 anos atrás...) porque tem uma cena de estupro super realista que dura 8min. Ficou famoso porque o público ia assistir sabendo da tal cena, ficava chocado e saía do cinema dando chilique. Tudo bem se sentir agredida/o pela tal cena, mas pera lá... todo mundo sabia que ela ia rolar e foi isso que fez o filme ser tão comentado, então provavelmente você estava lá por causa disso. Então não venha com frescurinhas de “ó, estou chocada!” e aprenda a entender o que o diretor quis passar. Não sou Cult, geralmente não gosto de filme Cult e o único diretor que eu consigo lembrar o nome é o Steven Spielberg... pra você entender o nível. Mas eu acho que pra entender a ideia do filme não precisa ser bom conhecedor do cinema francês. Basta saber que filme francês se resume a palavrão e sexo que tá valendo. – tá, isso foi uma tentativa de piada...

     Enfim, eu não fui ver o filme na época, provavelmente por falta de tempo, de dinheiro ou os dois, mas sempre quis assistir pelo menos pra poder entender a polêmica. Como eu acho que o filme é de 2002, então provavelmente eu não tinha dinheiro mesmo... E dez anos depois, minha resenha - super atualizada! - deve ser útil pra muita gente, então vou falar!

Vincent Cassel - serão os olhos?


     O filme não tem na verdade nada de mais, além da cena de 8 min de estupro seguida de espancamento, um assassinato bem violento com um extintor de incêndio e diálogos sobre sexo. Eu tenho meio agonia da cara do ator (Vincent Cassel)... acho que é porque ele tem os olhos muito separados. Mas a Monica Bellucci é um arraso... ela é muito linda, jesus! Talvez o único diferencial do filme tenha sido o jeito que ele foi construído, que é de trás pra frente, então fica legal... mas isso nem é irreverente mais (talvez na época era, não sei...). Eu diria que é um filme bom e que a meu ver, cumpre bem o papel ao tratar de violência. A tal cena de estupro é realista mesmo e dá MUITA agonia, porque mesmo sabendo o que acontece depois (o filme é de trás pra frente como eu disse), você ainda tem esperanças de acontecer um milagre e a mulher conseguir escapar. Ou de aparecer o Batman.  


     Só um adendo às mulheres. Se você tem qualquer vestígio de sentimento negativo ao sexo masculino, saiba que esse filme pode te transformar num monstro. Eu já briguei com o Fabricius dizendo que homem é mesmo uma merda e que deveriam todos ser castrados quimicamente. Inclusive ele.
     Eu não entendo como um homem tem a capacidade de sentir prazer com uma mulher tentando fugir (ou desmaiada), com uma criança ou com uma cadela (sério, eu recebo todos os dias um email da ONG de proteção animal com uma reportagem de alguma cadela que sofreu abusos sexuais...). Cara... de verdade, não é feminismo barato, mas o mundo deveria ser das mulheres.

Friday, 4 May 2012

Religião não é a moral da história


Semana passada eu recebi esse vídeo da escola adventistas ensinando criacionismo para as crianças.


 
     É horrível saber que a religião pode influenciar a ciência dessa maneira tão inescrupulosa e desonesta... tenho dó dessas crianças que talvez nunca consigam passar no vestibular, porque estão aprendendo o básico de uma maneira completamente equivocada. E que, por causa da religião de seus pais, estão tendo seus futuros comprometidos e limitados. É uma pena. Isso deveria ser proibido! Trata-se de destruição de conhecimento, de deturpação de verdades... Eu acho que deveríamos ter mobilizações sérias contra esse tipo de coisa. Principalmente o meio acadêmico, o Ministério da Educação, esse tipo de coisa... Fica difícil atitudes políticas graças a nossa querida bancada evangélica de deputados e senadores...

     Mas mais surpresa do que com o próprio vídeo fiquei ao ver dois “pesquisadores” – um geólogo e um químico – dando suporte ao “conteúdo escolar” descrito. Claro que fui saber quem são esses ditos pesquisadores... o geólogo é uma farsa mesmo, o lattes dele é ridículo. Mas o químico é um dos pesquisadores 1A do CNPq, o terceiro brasileiro mais citado no mundo, e tem mais de 400 artigos publicados. Veja o currículo de dar inveja dele aqui

     O pior é que ele usa da posição acadêmica dele pra divulgar inverdades a respeito da evolução (como se ela fosse apenas uma teoria que depende de fé para se acreditar...) e chega ao absurdo de dizer num dos vídeos que eu tive o desprazer de ver – num tal de congresso do design inteligente (pois é!), que a constituição química do ser humano dá evidências que ele veio do barro!! Gente, ainda se ele fosse um pesquisador medíocre... mas o cara é foda! Me deu depressão... é claro que nenhuma das publicações dele são relacionadas com criacionismo e que o conhecimento de evolução biológica dele deve ser super limitado, e é justamente por isso que ele está, no meu ponto de vista, sendo extremamente desonesto como cientista. 

     Olha, é um erro tão gigante tentar juntar fé e ciência que chega a dar desânimo...

     Mas então depois desse desespero inicial eu comecei a ver os vídeos relacionados e os relacionados dos relacionados e cheguei a uns canais de vlogueiros sobre ateísmo. Eu acho a ideia do vlog legal, mas não sei se tenho coragem de colocar minha cara a tapa assim... Mas achei muito interessante a ideia (eu pensava que era uma coisa mais de gringo e tal, mas tem muito brasileiro, né? Enfim...) e comecei a ver os debates. Teve um deles que me chamou a atenção, que foi o “desafio teísta”, que era de um religioso para os ateus.


     O cara enrola bastante, mas basicamente o que ele quer é que a gente mostre que a moralidade não depende da religião. Esse é um debate meio antigo, em que muitas pessoas acham que se você não crê em um deus, ou segue as “regras morais” impostas por alguma religião, você teoricamente não se preocuparia em seguir nenhuma atitude moral, já que no final você não será julgado por nada do que você fizer... Então a religião teria esse “papel social” de fornecer ordem e moralidade às pessoas. Esse é o argumento de pessoas religiosas, mas também já vi sendo usado por ateus que acham que a religião tem alguma importância social. Eu acho isso tudo muito falacioso, porque implica que pessoas sem religião são mau-caráter e não tem senso de moralidade, o que é uma mentira, lógico. E dá forças para preconceito contra quem é ateu, e para vídeos em rede nacional com esse do Datena no programa maravilhoso dele Brasil Urgente, em que ele afirma que os assassinos, criminosos e presidiários em geral não tem deus no coração, são aliados do capeta, que quem não acredita em deus não tem limites... enfim, veja o vídeo que vale como um bom exemplo de preconceito.



     Eu me senti extremamente ofendida por esse programa, porque ser ateu não é uma escolha. Se deus faz sentido pra você, se deus ajuda a sua vida e guia os teus caminhos, que ótimo pra você. Se pra mim a ideia de deus não faz sentido, isso não foi uma escolha! Eu nunca escolhi: “vou deixar de acreditar em deus porque sim”. Foi um processo bem longo e que no final eu percebi que era ateia. Assumi meu ateísmo só em 2004 pra minha família, e meu pai fica triste até hoje com isso. Mas eu não posso fazer nada! Ele acha que não importa o deus que você acredita, o importante é saber que tem algo acima de você, por que quem não acredita em deus acha que o homem está acima de tudo. Ou seja, é uma questão hierárquica.

     Primeiro que pra mim, quem tem religião sempre se acha superior a tudo e a todos, principalmente quando vemos a arrogância humana ao não querer aceitar que o homem e o macaco vieram de um ancestral comum. Quantas vezes você não já ouviu “o homem não veio do macaco!” em tom de terror e pânico. Realmente não veio do macaco, mas isso não vem ao caso... é priminho do macaco e ponto final! Isso tudo só reflete a arrogância da nossa espécie de se achar “filho” de um ser superior que criou ele “a sua imagem e semelhança” e os demais animais e plantas para servi-lo. Arrogância pra mim é não aceitar o evolucionismo. É se achar super especial no mundo e ter certeza que sua fé é melhor que a dos outros e que você tem lugar certo no céu/paraíso/plano espiritual/planície racional/o-caralho-a-quatro.

     Enfim, eu enrolei 2 parágrafos pra escrever minha resposta ao desafio teísta. Mas na verdade, as respostas dos outros nos vídeos relacionados já dizem muito do que eu queria dizer, então não vou ficar repetindo argumento dos outros.

     Eu só me lembrei desse artigo na Nature de 2007, em que crianças de 6 e 10 meses de idade (e que portanto não possuem uma moralidade definida por religião) já exibem empatia e definem o caráter de personagens. O experimento era simples, onde um objeto ajudava o outro numa tarefa fácil e outro atrapalhava (um triangulo ajudava a bola a subir a montanha enquanto o quadrado atrapalhava – veja os vídeos do experimento aqui). Os bebês depois podiam escolher entre os personagens (o “ajudante” e o “atrapalhador”) e dos 28 bebês, 26 escolheram o “ajudante”. É interessante saber que os objetos tinham olhos e que depois foi feito o mesmo teste com os mesmos objetos sem olhos e nenhum padrão foi identificado. Isso acontece porque não há empatia, ou seja, o bebê não reconhece as interações como uma atitude social na ausência de olhos. Isso acontece também com gente adulta. Um exemplo clássico é a escravidão, os brancos não reconheciam os negros como outros seres humanos e, não havendo empatia, a moralidade vai por água a baixo (mesmo que você seja um religioso fervoroso, como o caso da maioria dos colonizadores escravistas espanhóis e portugueses).

     O que esse experimento mostra é que alguns aspectos de moralidade e empatia, como são (e principalmente foram no passado) muito importante para a sobrevivência dos seres humanos como seres sociais que somos, estão geneticamente impressas e assim, mesmo bebês (assim como chimpanzés e bonobos - que não possuem religião) mostram sinais claros de moral. Além disso, claro, regras sociais e “não fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que fizessem com a gente” – respeito mútuo – são aprendidos no meio, independente de religião, e se a moral social atual assim for, são os chamados memes.

     Está claro que religião não é determinante para moralidade. Todos sabem de várias atrocidades históricas feitas em nome de um deus. Nem todo religioso é santo e nem todo ateu é santo. Somos pessoas, somos sujeitos a erros. Minha filosofia de vida, como ateia, vegetariana e ecóloga é ser o menos hipócrita possível, menos preconceituosa possível e causar o menor impacto possível no mundo. Tudo dentro das possibilidades... 

ps: Se alguém não tiver acesso ao pdf da Nature, me escreve que eu mando!!!

Wednesday, 7 March 2012

O paradigma panglossiano


Dr. Pangloss (Candide, Voltaire)
Eu queria escrever sobre ciência e acabei escrevendo um texto enorme de ecofisiologia vegetal. Mas me deu preguiça por vocês que irão (ou não) lê-lo. Então me veio essa idéia de falar de uma coisa interessante de verdade em ciência e, pra ser sincera, como fã do Stephen Jay Gould, achei esse um bom tema pra não assustar muito. 

Basicamente, o que ficou conhecido como “o paradigma de Pangloss” é uma crítica ao fato de que nem tudo tem uma causa adaptativa na natureza. Bem, vamos do começo.

Dr. Pangloss é um personagem de Voltaire e sua frase clássica é: “As coisas não são nada além do que são... tudo é feito para o melhor propósito”. Assim, ele argumenta por exemplo que nossos narizes foram feitos para suportar os óculos, por isso usamos óculos; e que nossas pernas foram claramente feitas para usar ceroulas, e por isso nós as usamos (quem usa ceroulas? haha!). Parece ridículo esse tipo de pensamento, mas nós estamos sempre em buscas de explicações funcionais para tudo que achamos. Principalmente os biólogos, ecólogos, etc.

Mimetismo ou viagem?
É muito tentador ao ver, por exemplo, que se as folhas de uma erva-de-passarinho são parecidas com a do seu hospedeiro, deduzir que se trata de um caso de mimetismo. Que as plantas parasitas tentam imitar as folhas de suas hospedeiras pra obter alguma vantagem seletiva sobre isso, seja por “enganar” os herbívoros ou por atrair os dispersores. Mas uma coisa pode não ter nada a ver com a outra. As folhas podem nem ser tão iguais assim. Insetos são atraídos muito mais quimicamente do que visualmente. Ou as folhas podem realmente ser parecidas, por convergência evolutiva, por alometria, por diversos fatores não-adaptativos, e não conferirem nenhuma vantagem para o indivíduo (o que nem é tão difícil de pensar, uma vez que parasitas generalistas aparentemente mimetizam um número super limitado de hospedeiros e crescem em mais uma pancada de outros).

Eu tenho que ficar levantando esses pontos toda hora porque aqui na Austrália todos acreditam no mimetismo das parasitas. É tentador, é muito legal... imagina que esperta essas plantas que enganam os predadores!! Mas pode não ser verdade. Inclusive, o último estudo que eu li descarta essa idéia de mimetismo aqui. 

No meu mestrado passei por algo parecido. Quando recebi as análises de nutriente foliar quase caí pra trás! As parasitas tinham uma quantidade absurda de potássio nas folhas. A primeira coisa que eu pensei foi que elas acumulavam potássio pra elevar a pressão osmótica nas células-guardas e conseguir manter os estômatos abertos, uma vez que teoricamente elas não precisariam se preocupar em economizar água (que elas pegam diretamente dos hospedeiros). Parece bem óbvio, né? Mas a história é bem diferente. As plantas parasitas não tem tantos drenos como as plantas “normais”, então elementos muito móveis no floema (como o potássio) se acumulam nas células, SIMPLESMENTE como uma CONSEQUÊNCIA do hábito parasita. 

As coisas nem sempre são para o melhor. Nossos lóbulos não existem para que possamos usar brincos, da mesma forma que várias coisas na natureza não tem um propósito ou uma função específica. E nem por isso, por nenhum segundo, a natureza deixa de me encantar.

Se você quiser ler o artigo clássico de Gould e Lewotin, tenho certeza que eles explicam muito melhor do que eu!

Thursday, 8 December 2011

Branca de Neve é o Cara***!


Eu sabia que esse assunto ia me deixar revoltada quando eu fosse escrever. Mas eu me sinto na obrigação de falar sobre isso. Eu vou falar sobre um assunto, que por mais que todo mundo ache feio e condenável, todo mundo pratica em algum grau e nem percebe. Eu vou falar sobre algo que tem gente que acha que não existe, que é coisa do passado... é, eu vou falar de RACISMO (meio que dando uma continuidade ao post anterior).

E o principal motivo é que só nessa semana, li 2 notícias que abalaram meu coração.

A primeira foi de uma igreja nos Estados Unidos que impedia casais interraciais de participarem de algumas atividades em grupo (praticamente só podiam participar de funeral) Veja a notícia aqui: http://www.huffingtonpost.com/2011/11/30/interracial-couple-banned-from-kentucky-church_n_1121582.html

A segunda, não menos surpreendente, foi a de uma estagiária negra que teve que ouvir da diretora da escola que ela tinha que alisar o cabelo pra manter uma boa aparência, condizente com a instituição que ela trabalha. Veja a matéria aqui: http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-brasil/12140-racismo-no-colegio-anhembi-morumbi-estagiaria-forcada-a-alisar-o-cabelo-para-manter-a-boa-aparencia

Duas notícias em menos de 5 dias. 

Como alguém tem coragem de dizer que racismo não existe? Essa pessoa deve viver num mundo encantado onde todas as pessoas são cor-de-rosa e se amam. 

Eu vou entrar num mérito muito maior. O racismo existe e é uma doença social. Não é apenas de um grupo (branco) contra outro (negros). É do negro contra o negro. É do mais branco contra o menos branco (ou o menos negro contra o mais negro).

Aí no Brasil, eu sou considerada branca, mas aqui eu sou marrom (Brown). Eu me orgulho da minha cor aqui, acho muito bom ser chamada de Brown, mas tem um pequeno detalhe: eu não cresci como morena. Eu nunca sofri discriminação no Brasil por causa da minha cor. Minha beleza era aceitável dentro do padrão. Sentir orgulho da sua cor, quando você não precisa passar por nada disso é muito fácil. 

Agora, para um negro (ou negra) a coisa é bem diferente. Porque o padrão pele-clara-cabelo-loiro-dos-olhos-azuis é exatamente o oposto do que o negro enxerga no espelho. 

Para ilustrar isso, tem um vídeo que eu considero extremamente educativo, por favor assistam (tem alguns outros – diferentes testes com o mesmo propósito e resultado – veja aqui: http://www.youtube.com/watch?v=0eHIkgh1K_0 ou aqui: http://www.youtube.com/watch?v=JcAuO0PNnrs&feature=related):



Isso pra mim exemplifica todo o meu ponto: você, criança negra, se identifica com um personagem feio, mal e que ninguém gosta. E o legal, bonito e agradável é justamente o oposto de você! Gente, isso é muito triste... 

Tem gente que é contra as cotas porque afirmam que os negros tem as mesmas potencialidades dos brancos. É claro que eles tem, ué! Essa não é e nem nunca foi a questão! A questão, no caso das cotas, são as oportunidades. A maneira que o branco e que o negro é tratado na sociedade e na sua própria consciência é muito diferente! Eu vou chamar isso de “efeito do racismo”.

Por causa desse efeito, tem gente que nem tenta fazer o vestibular da UnB porque “sabe que não vai passar”. Como alguém sabe disso sem tentar? Auto-estima. Saber o seu lugar na sociedade. Saber que você, como negro, pode exercer qualquer profissão, sem ninguém achar estranho. Ganhar espaço, respeito... não ser estranho pra ninguém ser atendido por um médico negro, um juíz negro, um dentista negro...

Eu já fui veementemente contra as cotas, mas quando percebi que a democracia racial não passa de uma mentira a favor da população branca, e o tanto que as oportunidades são diferentes intrinsecamente dependendo única e exclusivamente da tonalidade da sua pele, mudei de opinião. Mas não vou entrar no assunto dos problemas de implantação dessa política. Só me atenho a dizer que sou favorável a idéia.

Ainda não acredita que isso acontece na sociedade? Um exemplo simples: retorne a sua primeira série. Quem foi a noiva da festa junina? E o noivo? Quem era a mocinha das peças infantis? Quem era a princesa? 
Você era? Possivelmente, se você for loira(o) dos olhos azuis sua resposta será SIM. 

Eu juro que não sei como é hoje em dia (já fazem 20 anos, meu deus!), mas na minha época era claro esse padrão. Todas as meninas da sala eram apaixonadas pelo loirinho e todos os meninos pela loirinha. É, ou não é? Racismo implícito. A gente cresce com isso, a gente engole isso na mídia, a gente brinca com a Barbie (até a Barbie negra que eles fizeram agora só tem a pele marrom, porque não tem nenhum traço negro...), a gente assiste cinderela e a branca de neve...

Então, como fazer pra evitar isso? Eu acho que algumas atitudes simples podem diminuir o efeito do racismo. Primeiro, se você é educador ou trabalha de alguma maneira com crianças, POR FAVOR não caia nessa falácia de colocar a “mais bonitinha”- aos olhos de quem? – pra ser personagem principal. Eu não sei nada de psicologia, pedagogia, nada de nada, mas deve ter algum método pra isso, nem que seja o bom e velho sorteio.

Se você curte interagir com crianças e é daquelas pessoas que as crianças ficam olhando com o olhão arregalado no meio do shopping, dê um sorriso, elogie, diga como ele/ela é lindo/linda, como ele/ela é um príncipe/uma princesa. Independente de ser negro, loiro, azul, amarelo, lilás. Independente de ser gordo, magro, feio ou estranho. Eu acho que esse fato isolado pode mudar um pouco o jeito que essa pequena pessoa pode se enxergar como indivíduo. A gente vê o sorriso no rosto de crianças que talvez nunca foram elogiadas na rua. 

E não é pra ser hipócrita e elogiar só porque é o seu papel (e continuar com o racismo dentro de vc). Aprenda a admirar a beleza negra, o cabelo armado ou os penteados afros – eu acho lindo demais!, as diferentes tonalidades da cor da pele, o brilho, o sorriso... São traços belíssimos, são corpos lindíssimos (masculinos e femininos), que os brancos só tem a ganhar com essa miscigenação. 

E quem sabe um dia a gente não vai ter que ler comentários como esse, quando perguntam porque na revista Capricho não tem nenhum colírio negro (colírio pelo que eu entendi é um menino destaque):

“Bom sem preconceito sei que todos vao ignorar
mas todo mundo sabe que na caprixo so entra meninos lindos
e pessoas negras geralmente sao feias por mais que se arrume
cuide do visual do cabelo roupas legais nao tem jeito =/”


E nem como esse, sobre a participação de negras no concurso de miss universo:

Essa é a "menos feia" de um país inteiro, como alguém consegue achar uma preta bonita?


Então, pra finalizar, um pouquinho da beleza negra do Brasil em algumas imagens:


É ou não é uma princesinha?

Ai, meu deus, olha essa bochecha! Vontade de morder!


Monday, 28 November 2011

Pajé pode, médico não!

Com todo esse debate de Belo Monte daqui, Movimento gota d`água dalí e a questão se os índios vão ou não ser realocados, eu estava inspirada a escrever algo sobre Belo Monte. Daí fui ver uns vídeos no youtube sobre a usina (que, diga-se de passagem, me deixaram muito mais tristes do que eu já estava... vendo o tanto de pessoas que estão favoráveis a esse desastre dessa porcaria de usina). Mas li um comentário que me fez mudar o tema do post de hoje.

Segue o comentário desse infeliz:
“O mesmo hospital que meu filho foi levado atende índios, o que soa muito mal. Índios não possuem curandeiros? O que eles fazem, afinal de contas? Por que simplesmente não cercam um vasto local com mata preservada e dão aos índios para que os próprios se virem? Eles possuem curandeiras, caciques e tudo que lhes é necessário para serem chamados de índios, por que precisam de casas, bens materiais criados pelos "homens brancos", auxilio com saúde, entre outros?”

Gente, todo esse comentário se resume CLARAMENTE em uma palavra e apenas uma: preconceito. É triste ter que ler isso, de verdade. É triste pensar que tem gente que pensa assim e que sente isso no coração. Não é só com índio, mas com qualquer ser humano ou animal senciente pra mim.  

Eu estava discutindo outro dia sobre os aborígenes aqui da Austrália, que foi um dos maiores absurdos do século 18, onde eles foram praticamente dizimados e tiveram sua cultura destruída. E foi cruel, acredite. Os ingleses queriam educar as crianças e os separaram dos pais, levando pra morar nas fazendas – isso aconteceu até 1969! Ficaram conhecidos como a Geração Roubada (Stolen Generation). Na Tasmania não sobrou nenhum... A Guerra Negra (Black War) foi um genocídio total, aprovado e carimbado pelo governo. 15,000 aborígenes mortos, só lá!

Stolen Generation

Eu ouvi que a população de aborígenes hoje é menor que 3% da população aqui da Austrália. Corri pra conferir e é cerca de 2,5%. Achei um número baixíssimo, minoria esmagada contra a maioria esmagadora de brancos. Fui ver a população indígena do Brasil:

0,3%.

“Mas o Brasil é gigante e populoso... a Australia é gigante mas tem 22 milhões de habitantes!”  É verdade, São Paulo tem mais gente que a Austrália inteira. Mas então vamos ao número exato. Na Austrália, são cerca de 570,000 aborígenes e no Brasil, estima-se 421,000 indígenas. Eu fiquei chocada com o quão pouquinho isso é. Eu falava tanto, de quão terrível foi a colonização aqui pros nativos, mas o Brasil não fica pra trás em nada. E a colonização nunca parou, esse é o problema. Ninguém liga realmente se os índios vão ser afetados. Todo mundo pensa “Ah, mas eles bebem, eles vendem acesso a diamante, eles destroem o meio-ambiente do mesmo jeito (pasme, já ouvi esse comentário de pessoas também ecólogas como eu).”

Gente, o que destrói os recursos e o meio ambiente é o capitalismo. É simples assim. Veja os argumentos de quem é a favor da construção de Belo Monte! Só fala de dinheiro gerado, de energia e de orgulho por ter a terceira maior hidrelétrica do mundo.

Eu me orgulho sim, mas por ter nascido no país com a maior diversidade do mundo, me orgulho cada vez que eu falo da Amazônia e do Cerrado aqui na Austrália e percebo o tanto que isso é valorizado por eles, dos nossos bichos, das nossas árvores, dos nossos rios.

Mãe e filho tupis
Me orgulho dos nossos índios, os que ainda vivem tradicionalmente, que tem um estilo de vida simples, sem propriedade privada, sem visão de lucro, com respeito às crianças, com as tradições e danças ricamente culturais, com a rede, a mandioca, com o conhecimento da floresta... e não digo isso com uma visão minimalista do “mito do bom selvagem”. Eu sei de todos os "problemas", do infanticídio à extinção de espécies, mas não... não chega nem aos pés da doença da nossa sociedade capitalista européia. E essa cultura indígena deve ser valorizada. Valorizada e respeitada. 


E me orgulho do indígena que se inseriu na sociedade, que faz um curso superior (sabia que a Universidade do Acre tem um programa pra formar professores indígenas?), que mistura seu sangue com o negro, com o branco, com o amarelo e faz do Brasil esse país tão diverso culturalmente e sem-padrão de beleza, raça, cor e religião. Que, apesar dos pesares (e do preconceito), vive em casa de alvenaria, tem carro, eletricidade, faz compras no supermercado e leva suas crianças ao hospital. Porque não? Não pode?
  
Alunos indígenas em Dourados-MS


E (voltando ao comentário que tive o desprazer de ler), como assim eles que fiquem na floresta com os curandeiros deles? O “homem branco” chega, impõe uma cultura, um deus, um modo de vida, e agora vem com essa de “eles que fiquem no mato”? É o ó do borogodó mesmo! Eles que usem os recursos que eles quiserem e bem entender. Quer dizer que o filho do branco tem direito a hospital e o indígena não, mas porque mesmo? Pq o branco que "inventou" o médico? Porque o branco que fez a aspirina – com o princípio ativo tirado da casca de uma árvore, diga-se de passagem-? Porque o branco é melhor e ponto final? É essa a lógica? É isso mesmo?

Ô mundinho, viu?