Friday 4 May 2012

Religião não é a moral da história


Semana passada eu recebi esse vídeo da escola adventistas ensinando criacionismo para as crianças.


 
     É horrível saber que a religião pode influenciar a ciência dessa maneira tão inescrupulosa e desonesta... tenho dó dessas crianças que talvez nunca consigam passar no vestibular, porque estão aprendendo o básico de uma maneira completamente equivocada. E que, por causa da religião de seus pais, estão tendo seus futuros comprometidos e limitados. É uma pena. Isso deveria ser proibido! Trata-se de destruição de conhecimento, de deturpação de verdades... Eu acho que deveríamos ter mobilizações sérias contra esse tipo de coisa. Principalmente o meio acadêmico, o Ministério da Educação, esse tipo de coisa... Fica difícil atitudes políticas graças a nossa querida bancada evangélica de deputados e senadores...

     Mas mais surpresa do que com o próprio vídeo fiquei ao ver dois “pesquisadores” – um geólogo e um químico – dando suporte ao “conteúdo escolar” descrito. Claro que fui saber quem são esses ditos pesquisadores... o geólogo é uma farsa mesmo, o lattes dele é ridículo. Mas o químico é um dos pesquisadores 1A do CNPq, o terceiro brasileiro mais citado no mundo, e tem mais de 400 artigos publicados. Veja o currículo de dar inveja dele aqui

     O pior é que ele usa da posição acadêmica dele pra divulgar inverdades a respeito da evolução (como se ela fosse apenas uma teoria que depende de fé para se acreditar...) e chega ao absurdo de dizer num dos vídeos que eu tive o desprazer de ver – num tal de congresso do design inteligente (pois é!), que a constituição química do ser humano dá evidências que ele veio do barro!! Gente, ainda se ele fosse um pesquisador medíocre... mas o cara é foda! Me deu depressão... é claro que nenhuma das publicações dele são relacionadas com criacionismo e que o conhecimento de evolução biológica dele deve ser super limitado, e é justamente por isso que ele está, no meu ponto de vista, sendo extremamente desonesto como cientista. 

     Olha, é um erro tão gigante tentar juntar fé e ciência que chega a dar desânimo...

     Mas então depois desse desespero inicial eu comecei a ver os vídeos relacionados e os relacionados dos relacionados e cheguei a uns canais de vlogueiros sobre ateísmo. Eu acho a ideia do vlog legal, mas não sei se tenho coragem de colocar minha cara a tapa assim... Mas achei muito interessante a ideia (eu pensava que era uma coisa mais de gringo e tal, mas tem muito brasileiro, né? Enfim...) e comecei a ver os debates. Teve um deles que me chamou a atenção, que foi o “desafio teísta”, que era de um religioso para os ateus.


     O cara enrola bastante, mas basicamente o que ele quer é que a gente mostre que a moralidade não depende da religião. Esse é um debate meio antigo, em que muitas pessoas acham que se você não crê em um deus, ou segue as “regras morais” impostas por alguma religião, você teoricamente não se preocuparia em seguir nenhuma atitude moral, já que no final você não será julgado por nada do que você fizer... Então a religião teria esse “papel social” de fornecer ordem e moralidade às pessoas. Esse é o argumento de pessoas religiosas, mas também já vi sendo usado por ateus que acham que a religião tem alguma importância social. Eu acho isso tudo muito falacioso, porque implica que pessoas sem religião são mau-caráter e não tem senso de moralidade, o que é uma mentira, lógico. E dá forças para preconceito contra quem é ateu, e para vídeos em rede nacional com esse do Datena no programa maravilhoso dele Brasil Urgente, em que ele afirma que os assassinos, criminosos e presidiários em geral não tem deus no coração, são aliados do capeta, que quem não acredita em deus não tem limites... enfim, veja o vídeo que vale como um bom exemplo de preconceito.



     Eu me senti extremamente ofendida por esse programa, porque ser ateu não é uma escolha. Se deus faz sentido pra você, se deus ajuda a sua vida e guia os teus caminhos, que ótimo pra você. Se pra mim a ideia de deus não faz sentido, isso não foi uma escolha! Eu nunca escolhi: “vou deixar de acreditar em deus porque sim”. Foi um processo bem longo e que no final eu percebi que era ateia. Assumi meu ateísmo só em 2004 pra minha família, e meu pai fica triste até hoje com isso. Mas eu não posso fazer nada! Ele acha que não importa o deus que você acredita, o importante é saber que tem algo acima de você, por que quem não acredita em deus acha que o homem está acima de tudo. Ou seja, é uma questão hierárquica.

     Primeiro que pra mim, quem tem religião sempre se acha superior a tudo e a todos, principalmente quando vemos a arrogância humana ao não querer aceitar que o homem e o macaco vieram de um ancestral comum. Quantas vezes você não já ouviu “o homem não veio do macaco!” em tom de terror e pânico. Realmente não veio do macaco, mas isso não vem ao caso... é priminho do macaco e ponto final! Isso tudo só reflete a arrogância da nossa espécie de se achar “filho” de um ser superior que criou ele “a sua imagem e semelhança” e os demais animais e plantas para servi-lo. Arrogância pra mim é não aceitar o evolucionismo. É se achar super especial no mundo e ter certeza que sua fé é melhor que a dos outros e que você tem lugar certo no céu/paraíso/plano espiritual/planície racional/o-caralho-a-quatro.

     Enfim, eu enrolei 2 parágrafos pra escrever minha resposta ao desafio teísta. Mas na verdade, as respostas dos outros nos vídeos relacionados já dizem muito do que eu queria dizer, então não vou ficar repetindo argumento dos outros.

     Eu só me lembrei desse artigo na Nature de 2007, em que crianças de 6 e 10 meses de idade (e que portanto não possuem uma moralidade definida por religião) já exibem empatia e definem o caráter de personagens. O experimento era simples, onde um objeto ajudava o outro numa tarefa fácil e outro atrapalhava (um triangulo ajudava a bola a subir a montanha enquanto o quadrado atrapalhava – veja os vídeos do experimento aqui). Os bebês depois podiam escolher entre os personagens (o “ajudante” e o “atrapalhador”) e dos 28 bebês, 26 escolheram o “ajudante”. É interessante saber que os objetos tinham olhos e que depois foi feito o mesmo teste com os mesmos objetos sem olhos e nenhum padrão foi identificado. Isso acontece porque não há empatia, ou seja, o bebê não reconhece as interações como uma atitude social na ausência de olhos. Isso acontece também com gente adulta. Um exemplo clássico é a escravidão, os brancos não reconheciam os negros como outros seres humanos e, não havendo empatia, a moralidade vai por água a baixo (mesmo que você seja um religioso fervoroso, como o caso da maioria dos colonizadores escravistas espanhóis e portugueses).

     O que esse experimento mostra é que alguns aspectos de moralidade e empatia, como são (e principalmente foram no passado) muito importante para a sobrevivência dos seres humanos como seres sociais que somos, estão geneticamente impressas e assim, mesmo bebês (assim como chimpanzés e bonobos - que não possuem religião) mostram sinais claros de moral. Além disso, claro, regras sociais e “não fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que fizessem com a gente” – respeito mútuo – são aprendidos no meio, independente de religião, e se a moral social atual assim for, são os chamados memes.

     Está claro que religião não é determinante para moralidade. Todos sabem de várias atrocidades históricas feitas em nome de um deus. Nem todo religioso é santo e nem todo ateu é santo. Somos pessoas, somos sujeitos a erros. Minha filosofia de vida, como ateia, vegetariana e ecóloga é ser o menos hipócrita possível, menos preconceituosa possível e causar o menor impacto possível no mundo. Tudo dentro das possibilidades... 

ps: Se alguém não tiver acesso ao pdf da Nature, me escreve que eu mando!!!

1 comment:

  1. Lindona! Esse foi seu post que eu mais gostei! Ficou bonzão!!! Você se expressa tão bem, eu só consigo sentir ódio profundo!!! http://www.youtube.com/watch?v=yHaJBccSsuk&feature=related (primeira frase da música explica tudo)! hahaha!

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