Sunday 19 August 2012

Bípede, incoerente e hipócrita!


     Bom, esse vai ser meu primeiro post sobre vegetarianismo então já adianto que ele vai ser longo e provavelmente chato. Chato pra quem não suporta vegetarianos, e chato pra vegetarianos em sua maioria também. Então vai ser chato pra, digamos... 90% das pessoas? Talvez mais... 

     Eu acabei de ver um post qualquer no facebook que dizia: “essa alface morreu pra que você pudesse ser vegetariano. Tenha compaixão, coma pedras.”

Eu vejo alfaces mortas...

     Tá. Não comentei no post, mesmo porque não faz muito sentido discutir vegetarianismo com quem não tá nem um pouco interessado em se tornar vegetariano ao ponto de postar um banner explicitamente atacando o vegetarianismo. Pra quê discutir com esse povo? Não leva a nada, só nos desgasta e, pra ser sincero, só vai nos deixar com mais fama de chatos (se isso for possível). Então recomendo que, se a pessoa não for sua amiga, não responda. Se ela for próxima, eu sei que é difícil não se revoltar com uma abobrinha dessas, mas talvez valha a pena ignorar. Eu não sei se falaria nada diretamente pra pessoa. Talvez eu escrevesse no meu blog, como estou fazendo agora para aliviar a tensão e assim, conseguir dormir em paz.

     Eu sei que a maior parte das pessoas SABE muito bem a diferença entre uma alface e uma vaca. E, não sei se falo por todo vegetariano, mas eu não me importo em nada com a morte. De uma alface, de um cachorro, de um gato ou de um ser humano. Morrer é um processo super natural e todo mundo sabe que faz parte do ciclo da vida. “O caminho da vida é a morte”. Então, morte por morte, foda-se. Sério. O problema pra mim é o sofrimento e privações que os animais criados pra consumo são forçados a passar. Sofrimento DESNECESSÁRIO porque NÃO precisamos de carne pra viver. Se você tem alguma dúvida, consulte um especialista, vá ao nutricionista. Se você quer ver artigos científicos a respeito, procure no Google scholar que você vai encontrar super fácil. Ainda, pode descobrir que uma dieta vegetariana diminui o risco de diversos tipos de câncer e de problemas do coração – entre outros. Então, ser vegetariano nem só é possível como te faz bem. É claro que eu não estou falando isso pro indígena ou aborígene que vive no meio do mato e tem uma opção de dieta super restrita. Estou falando isso pra quem está lendo o meu blog num computador, que com certeza tem acesso a um supermercado com várias opções de legumes, frutas e cereais. Então ninguém nessas condições deveria ser ignorante ao que se refere a não necessidade de carne para sobreviver (e ser saudável).

     Então, esse é o meu ponto. Se carne fosse um mal necessário, se fossemos estritamente carnívoros ou mesmo se tivéssemos alguns mínimos prejuízos à saúde por não comer carne, eu não defenderia o vegetarianismo. Mas não é esse o caso. Somos onívoros. Podemos optar. E melhor, podemos optar por não sermos responsável pelo sofrimento dos animais de produção. 

“E quem disse que eu me importo se os bichinhos sofrem?? Minha comida caga na sua comida! hahahaha!”

Nossa, que sinistro, sua comida é mesmo muito foda... ela, tipo... caga... né?

     Se você pouco se importa com o sofrimento animal e se você ainda acha muito engraçado e sinistro o fato da sua comida cagar, pense no mundo. Você realmente acha que o consumo de carne é ecologicamente viável? Existem vários estudos nesse sentido também, comparando o custo ecológico de ser vegetariano ou onívoro. Vou disponibilizar dois deles para quem tiver interesse.

Leitzmann, C. 2003 -  “One of the most effective ways to achieve the goals of nutrition ecology, including healthy and sustainable food choices, is a vegetarian lifestyle” (“Um dos modos mais efetivos de alcançar os objetivos da nutrição ecológica, incluindo saúde e escolhas de comidas sustentáveis, é um modo de vida vegetariano”)

Baroni, L. et al. 2007 -  “Owing to their lighter impact, confirmed also by our study, vegetarian and vegan diets could play an important role in preserving environmental resources and in reducing hunger and malnutrition in poorer nations” (“Com os menores impactos, confirmados também pelo nosso estudo, as dietas vegetarianas e vegans devem ter um papel umportante na preservação de recursos ambientais e redução da fome e má-nutrição nas nações mais pobres”)

     Agora, se você também não se importa com a pobreza alheia ou com a perda de biodiversidade e está pouco se lixando para todos os problemas ambientais causados pela produção animal... acontece, né? Fazer o que? Pessoas se importam e se interessam por coisas diferentes. Mas pensa bem, você pode concordar com as ideias, sem precisar segui-las ou defendê-las. Entende? Não é porque você não é vegetariano que você tem que se tornar anti-vegetarianismo. Não é porque eu quero a cura da AIDS que eu vou me tornar uma médica pra dedicar minha vida para isso. Mas nem por isso vou criticar quem o faz. (nossa, essa analogia foi meio tosca, mas tudo bem...)

     Se você se importa um pouquinho (ou com o mundo ou com os animais), mas acha churrasquinho a maravilha dos deuses e colocou na sua cabeça que não consegue ser vegetariano (mesmo sem nunca ter tentado – ou ter tentado por 2 dias...), então reduza! Coma menos carne, coma carne só nos finais de semana, ou então só em 1 refeição do dia – tipo almoço ou jantar. Não precisa colocar presunto no sanduíche pra ele ficar gostoso... comece a ser criativo, vai inventando e procurando receitas legais que não levem carne.

     Eu garanto que o paladar melhora (bom, melhora eu posso estar sendo tendenciosa, mas muda com certeza...), e você vai conseguir sentir melhor o gosto dos alimentos e valorizar os vegetais de uma forma diferente. Quem sabe assim depois de um tempo não seja mais fácil cortar a carne de vez? Ou não... só reduzir ao mínimo, que seja!

   Você já foi a algum restaurante vegetariano? Vá, experimente! Porque não? Não precisa ser escravo da carne pra conseguir ter uma refeição super gostosa. Quem sabe uma lasanha de espinafre, ou uma torta de palmito? Nhoque ao molho sugo, risoto de cogumelos... não parece gostoso? – Acho que tô com fome... 

Horácio fofo - ondejáseviu um tiranossauro rex vegetariano?


“Ai, vegetarianos parecem um bando de religiosos, tentando converter os outros, que saco!”

     Pois é, eu acho justamente o contrário. Vegetarianos parecem muito mais ateus, se libertando de hábitos da nossa sociedade e querendo um mundo mais justo.

    Eu sei que alguns vegetarianos podem estar num processo difícil de auto-afirmação e querem ser os donos da verdade. É difícil mesmo, porque a gente fica revoltada de certa forma. E muitos acham absurdo até você fazer o que está ao seu alcance, como reduzir a carne do seu cardápio. E querem que você pare totalmente, inclusive com leite, ovos e mel. E te chamam de hipócrita e incoerente, e pior pessoa do mundo por isso.

     Não, você não é a pior pessoa. Hipocrisia é uma palavra estranha pra mim, porque ela carrega um significado tão negativo, quando na verdade não deveria. Chamar alguém de hipócrita é uma das piores coisas que você pode fazer pra essa pessoa. Mas todo mundo é hipócrita e ser hipócrita ou ser chamado disso não deveria nem de longe ser uma ofensa. Deveria ser uma característica, como sei lá... ser bípede. “Seu bípede!” – não sei por que, a palavra bípede pra mim parece muito mais um xingamento que hipócrita.

     Enfim, o que eu quero dizer é que somos seres incoerentes e hipócritas, e o máximo que a gente faz é tentar minimizar isso. Eu como queijo. Já tentei várias vezes parar, já fiquei 8 meses sem nada animal, mas voltei a comer. Eu como ovos, mas procuro comprar o free range, que é um pouquinho mais caro, mas já tive a oportunidade inclusive de ver, e as galinhas vivem soltinhas e ciscando pra lá e  pra cá. Me dá mais alegria no coração desse jeito. Mas mesmo assim, o queijo ainda me dói. Meu sonho é ter minha fazendinha com minha vaquinha e minhas galinhas. Mas enquanto isso, vou seguindo na minha hipocrisia de cada dia.

2 comments:

  1. Boto fé do ovinho free range! :)

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  2. Gostei :) e concordo claro. Ainda acho que discutir seja muito útil para todos, mas sempre existem aquelas pessoas que tem uma certa dificuldade de entender o que é conversar sobre algo para trocar informações, e acham que sempre tem que atacar as pessoas que tem idéias diferentes da sua. Enfim, a gente vai descobrindo as formas de usar palavras, cada atitude pede por certas palavras para um mesmo assunto e essa forma de passar a informação pode ser beeeeeem diferente.
    beijos Marina, amo você minha irmã.

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