Sunday 20 May 2012

Mulheres de verdade!


     Eu não me considero uma feminista ativista, mas de vez em quando eu me pego questionando nossas próprias atitudes (das mulheres) e me decepciono de certa forma.

     Não é uma coisa simples tentar entender o que nos leva a postar figuras machistas no facebook, ou divulgar emails com mensagens machistas contra nós mesmas! Eu vou postar um exemplo de um email que eu recebi ontem:

"Uma noite, na semana passada, minha mulher e eu estávamos indo para a cama. 
Bem, começamos a ficar a vontade, fazer carinhos, provocações, o maior T
ESÃO e, nesse momento, ela parou e me disse: 
- Acho que agora não quero, só quero que você me abrace.... 
Eu falei: - O QUEEE??? 
Ela falou: - Você não sabe se conectar com as minhas necessidades emocionais como mulher
Comecei a pensar no que podia ter falhado.

No final, assumi que aquela noite não ia rolar nada, virei e dormi. No dia seguinte, fomos ao shopping. 
Entramos em uma grande loja de departamentos.
Fui dar uma volta enquanto ela experimentava três modelitos caríssimos. Como estava difícil escolher entre um ou outro, falei para comprar os três.
Então, ela me falou que precisava de uns sapatos que combinassem a R$ 200,00 cada par.
Respondi que tudo bem. 
Depois fomos a seção de joalheria, onde gostou de uns brincos de diamantes e eu concordei que comprasse.
Estava tão emocionada! Deveria estar pensando que fiquei louco.
Acho até que estava me testando quando pediu uma raquete de tênis, porque nem tênis ela joga.
Acredito que acabei com seus esquemas e paradigmas quando falei que sim.

Ela estava quase excitada sexualmente depois de tudo isso.
Vocês tinham que ver a carinha dela, toda feliz! 
Quando ela falou: - Vamos passar no caixa para pagar, amor? 
Daí eu disse: - Acho que agora não quero mais comprar tudo isso, meu bem...
Só quero que você me abrace.

Ela ficou pálida.
No momento em que começou a ficar com cara de querer me matar, falei:

- Você não sabe se conectar com as minhas necessidades financeiras de homem....
 
Vinguei-me! Mas acredito que o sexo acabou pra mim até o Natal de 2012!"
 
     Eu juro que não sei se era pra ser engraçado, ou eu devo ter perdido meu senso de humor... O problema desse tipo de “piada”, ou de algumas propagandas é que exaltam a mulher como consumista e, muito pior, dependente financeiramente dos homens. É ainda aquela antiga ideia que o homem é o provedor da casa e a mulher só serve pra gastar seu suado dinheirinho em coisas fúteis como sapato, roupas e maquiagem.

"Seu cartão de crédito estorou. Mas sua mulher ficou linda." (???) Non sequitur...

     Eu sei que muitas mulheres amam sapato (eu particularmente acho um saco ter que comprar sapato), mas não é essa a questão. As mulheres são independentes e podem comprar seus próprios sapatos/maquiagem e pagar o salão de beleza com seu salário! Não precisa de um homem com um cartão de crédito pra elas dependerem.

     Eu lembrei de outro tipo de propaganda, não relacionada a consumo, mas ao “papel da mulher como mantedora do lar”. Tipo de sabão em pó, ou de detergente. Homem, aparentemente, não se preocupa com essas coisas, isso é coisa de mulher...

     Eu não sei o que esses marqueteiros tem na cabeça! Eu acho que muitos homens se preocupam muito mais que as mulheres com esse tipo de coisa. O Fabricius, por exemplo, é um saco pra escolher sabão em pó porque ele não quer que as camisas pretas dele fiquem manchadas de sabão. Eu escolho o mais barato mesmo e tá ótimo! Esse tipo de propaganda parte de uma generalização dos anos 50 que é falha nos dias de hoje! Muitos homens hoje vivem sozinhos e se preocupam sim com qualidade de produtos domésticos. E muitas mulheres não se preocupam com essas coisas. Eu sou uma delas.

     Outro tipo de coisa que eu acho chato são aquelas figuras do facebook do tipo “mulheres de verdade e piriguetes” ou “mulheres pra casar e mulheres pra ficar”, tipo essa aqui:


    Eu até entendo a cabeça machista dos homens de categorizar as mulheres desse jeito. Tá, na verdade não entendo não. Mas o que é mais perturbador é que a maioria que divulga essas coisas são as próprias mulheres!!! Não existem categorias ao se julgar apenas pela aparência e pelo apetite sexual. Mulheres bem resolvidas que querem dar na primeira noite não são de uma categoria inferior ao tipo “Sandy” hipócrita de “mulheres para casar”!! A gente tem que entender que se valorizar é se respeitar. E se respeitar é fazer aquilo que você se sente bem. Se você gosta de sexo e quer dar na primeira noite, que seja! Se você gosta de usar uma saia curta e mostrar suas pernas, que use!  
  
    Os tempos mudaram e nós temos nossa liberdade sexual e podemos dar pra quem quisermos e bem entender! É claro que eu não estou defendendo traição, fidelidade é um acordo entre duas pessoas. Mas se basear no quanto a mulher é gostosa, ou curte vestir roupas provocantes pra classificá-la numa categoria oposta a “mulheres de verdade” só pode ser machismo. Machismo feminino ainda por cima!
     
    Só pra ter uma ideia da gravidade do problema, dá uma olhadinha nesse fórum.

    Eu acho o cúmulo ter que ler isso! Vou fazer uma montagem de homem pra pegar e fazer sexo e homem pra casar. Vamos ver se agrada... Ou melhor...


Saturday 19 May 2012

Resenha atual de 10 anos atrás


     Hoje eu assisti o filme “Irreversível” (Irreversible), é aquele filme que foi super polêmico na época (há 10 anos atrás...) porque tem uma cena de estupro super realista que dura 8min. Ficou famoso porque o público ia assistir sabendo da tal cena, ficava chocado e saía do cinema dando chilique. Tudo bem se sentir agredida/o pela tal cena, mas pera lá... todo mundo sabia que ela ia rolar e foi isso que fez o filme ser tão comentado, então provavelmente você estava lá por causa disso. Então não venha com frescurinhas de “ó, estou chocada!” e aprenda a entender o que o diretor quis passar. Não sou Cult, geralmente não gosto de filme Cult e o único diretor que eu consigo lembrar o nome é o Steven Spielberg... pra você entender o nível. Mas eu acho que pra entender a ideia do filme não precisa ser bom conhecedor do cinema francês. Basta saber que filme francês se resume a palavrão e sexo que tá valendo. – tá, isso foi uma tentativa de piada...

     Enfim, eu não fui ver o filme na época, provavelmente por falta de tempo, de dinheiro ou os dois, mas sempre quis assistir pelo menos pra poder entender a polêmica. Como eu acho que o filme é de 2002, então provavelmente eu não tinha dinheiro mesmo... E dez anos depois, minha resenha - super atualizada! - deve ser útil pra muita gente, então vou falar!

Vincent Cassel - serão os olhos?


     O filme não tem na verdade nada de mais, além da cena de 8 min de estupro seguida de espancamento, um assassinato bem violento com um extintor de incêndio e diálogos sobre sexo. Eu tenho meio agonia da cara do ator (Vincent Cassel)... acho que é porque ele tem os olhos muito separados. Mas a Monica Bellucci é um arraso... ela é muito linda, jesus! Talvez o único diferencial do filme tenha sido o jeito que ele foi construído, que é de trás pra frente, então fica legal... mas isso nem é irreverente mais (talvez na época era, não sei...). Eu diria que é um filme bom e que a meu ver, cumpre bem o papel ao tratar de violência. A tal cena de estupro é realista mesmo e dá MUITA agonia, porque mesmo sabendo o que acontece depois (o filme é de trás pra frente como eu disse), você ainda tem esperanças de acontecer um milagre e a mulher conseguir escapar. Ou de aparecer o Batman.  


     Só um adendo às mulheres. Se você tem qualquer vestígio de sentimento negativo ao sexo masculino, saiba que esse filme pode te transformar num monstro. Eu já briguei com o Fabricius dizendo que homem é mesmo uma merda e que deveriam todos ser castrados quimicamente. Inclusive ele.
     Eu não entendo como um homem tem a capacidade de sentir prazer com uma mulher tentando fugir (ou desmaiada), com uma criança ou com uma cadela (sério, eu recebo todos os dias um email da ONG de proteção animal com uma reportagem de alguma cadela que sofreu abusos sexuais...). Cara... de verdade, não é feminismo barato, mas o mundo deveria ser das mulheres.

Friday 4 May 2012

Religião não é a moral da história


Semana passada eu recebi esse vídeo da escola adventistas ensinando criacionismo para as crianças.


 
     É horrível saber que a religião pode influenciar a ciência dessa maneira tão inescrupulosa e desonesta... tenho dó dessas crianças que talvez nunca consigam passar no vestibular, porque estão aprendendo o básico de uma maneira completamente equivocada. E que, por causa da religião de seus pais, estão tendo seus futuros comprometidos e limitados. É uma pena. Isso deveria ser proibido! Trata-se de destruição de conhecimento, de deturpação de verdades... Eu acho que deveríamos ter mobilizações sérias contra esse tipo de coisa. Principalmente o meio acadêmico, o Ministério da Educação, esse tipo de coisa... Fica difícil atitudes políticas graças a nossa querida bancada evangélica de deputados e senadores...

     Mas mais surpresa do que com o próprio vídeo fiquei ao ver dois “pesquisadores” – um geólogo e um químico – dando suporte ao “conteúdo escolar” descrito. Claro que fui saber quem são esses ditos pesquisadores... o geólogo é uma farsa mesmo, o lattes dele é ridículo. Mas o químico é um dos pesquisadores 1A do CNPq, o terceiro brasileiro mais citado no mundo, e tem mais de 400 artigos publicados. Veja o currículo de dar inveja dele aqui

     O pior é que ele usa da posição acadêmica dele pra divulgar inverdades a respeito da evolução (como se ela fosse apenas uma teoria que depende de fé para se acreditar...) e chega ao absurdo de dizer num dos vídeos que eu tive o desprazer de ver – num tal de congresso do design inteligente (pois é!), que a constituição química do ser humano dá evidências que ele veio do barro!! Gente, ainda se ele fosse um pesquisador medíocre... mas o cara é foda! Me deu depressão... é claro que nenhuma das publicações dele são relacionadas com criacionismo e que o conhecimento de evolução biológica dele deve ser super limitado, e é justamente por isso que ele está, no meu ponto de vista, sendo extremamente desonesto como cientista. 

     Olha, é um erro tão gigante tentar juntar fé e ciência que chega a dar desânimo...

     Mas então depois desse desespero inicial eu comecei a ver os vídeos relacionados e os relacionados dos relacionados e cheguei a uns canais de vlogueiros sobre ateísmo. Eu acho a ideia do vlog legal, mas não sei se tenho coragem de colocar minha cara a tapa assim... Mas achei muito interessante a ideia (eu pensava que era uma coisa mais de gringo e tal, mas tem muito brasileiro, né? Enfim...) e comecei a ver os debates. Teve um deles que me chamou a atenção, que foi o “desafio teísta”, que era de um religioso para os ateus.


     O cara enrola bastante, mas basicamente o que ele quer é que a gente mostre que a moralidade não depende da religião. Esse é um debate meio antigo, em que muitas pessoas acham que se você não crê em um deus, ou segue as “regras morais” impostas por alguma religião, você teoricamente não se preocuparia em seguir nenhuma atitude moral, já que no final você não será julgado por nada do que você fizer... Então a religião teria esse “papel social” de fornecer ordem e moralidade às pessoas. Esse é o argumento de pessoas religiosas, mas também já vi sendo usado por ateus que acham que a religião tem alguma importância social. Eu acho isso tudo muito falacioso, porque implica que pessoas sem religião são mau-caráter e não tem senso de moralidade, o que é uma mentira, lógico. E dá forças para preconceito contra quem é ateu, e para vídeos em rede nacional com esse do Datena no programa maravilhoso dele Brasil Urgente, em que ele afirma que os assassinos, criminosos e presidiários em geral não tem deus no coração, são aliados do capeta, que quem não acredita em deus não tem limites... enfim, veja o vídeo que vale como um bom exemplo de preconceito.



     Eu me senti extremamente ofendida por esse programa, porque ser ateu não é uma escolha. Se deus faz sentido pra você, se deus ajuda a sua vida e guia os teus caminhos, que ótimo pra você. Se pra mim a ideia de deus não faz sentido, isso não foi uma escolha! Eu nunca escolhi: “vou deixar de acreditar em deus porque sim”. Foi um processo bem longo e que no final eu percebi que era ateia. Assumi meu ateísmo só em 2004 pra minha família, e meu pai fica triste até hoje com isso. Mas eu não posso fazer nada! Ele acha que não importa o deus que você acredita, o importante é saber que tem algo acima de você, por que quem não acredita em deus acha que o homem está acima de tudo. Ou seja, é uma questão hierárquica.

     Primeiro que pra mim, quem tem religião sempre se acha superior a tudo e a todos, principalmente quando vemos a arrogância humana ao não querer aceitar que o homem e o macaco vieram de um ancestral comum. Quantas vezes você não já ouviu “o homem não veio do macaco!” em tom de terror e pânico. Realmente não veio do macaco, mas isso não vem ao caso... é priminho do macaco e ponto final! Isso tudo só reflete a arrogância da nossa espécie de se achar “filho” de um ser superior que criou ele “a sua imagem e semelhança” e os demais animais e plantas para servi-lo. Arrogância pra mim é não aceitar o evolucionismo. É se achar super especial no mundo e ter certeza que sua fé é melhor que a dos outros e que você tem lugar certo no céu/paraíso/plano espiritual/planície racional/o-caralho-a-quatro.

     Enfim, eu enrolei 2 parágrafos pra escrever minha resposta ao desafio teísta. Mas na verdade, as respostas dos outros nos vídeos relacionados já dizem muito do que eu queria dizer, então não vou ficar repetindo argumento dos outros.

     Eu só me lembrei desse artigo na Nature de 2007, em que crianças de 6 e 10 meses de idade (e que portanto não possuem uma moralidade definida por religião) já exibem empatia e definem o caráter de personagens. O experimento era simples, onde um objeto ajudava o outro numa tarefa fácil e outro atrapalhava (um triangulo ajudava a bola a subir a montanha enquanto o quadrado atrapalhava – veja os vídeos do experimento aqui). Os bebês depois podiam escolher entre os personagens (o “ajudante” e o “atrapalhador”) e dos 28 bebês, 26 escolheram o “ajudante”. É interessante saber que os objetos tinham olhos e que depois foi feito o mesmo teste com os mesmos objetos sem olhos e nenhum padrão foi identificado. Isso acontece porque não há empatia, ou seja, o bebê não reconhece as interações como uma atitude social na ausência de olhos. Isso acontece também com gente adulta. Um exemplo clássico é a escravidão, os brancos não reconheciam os negros como outros seres humanos e, não havendo empatia, a moralidade vai por água a baixo (mesmo que você seja um religioso fervoroso, como o caso da maioria dos colonizadores escravistas espanhóis e portugueses).

     O que esse experimento mostra é que alguns aspectos de moralidade e empatia, como são (e principalmente foram no passado) muito importante para a sobrevivência dos seres humanos como seres sociais que somos, estão geneticamente impressas e assim, mesmo bebês (assim como chimpanzés e bonobos - que não possuem religião) mostram sinais claros de moral. Além disso, claro, regras sociais e “não fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que fizessem com a gente” – respeito mútuo – são aprendidos no meio, independente de religião, e se a moral social atual assim for, são os chamados memes.

     Está claro que religião não é determinante para moralidade. Todos sabem de várias atrocidades históricas feitas em nome de um deus. Nem todo religioso é santo e nem todo ateu é santo. Somos pessoas, somos sujeitos a erros. Minha filosofia de vida, como ateia, vegetariana e ecóloga é ser o menos hipócrita possível, menos preconceituosa possível e causar o menor impacto possível no mundo. Tudo dentro das possibilidades... 

ps: Se alguém não tiver acesso ao pdf da Nature, me escreve que eu mando!!!