Outro dia, um domingo, eu acordei num susto, com aquela sensação estranha de não reconhecer o lugar que vc tá dormindo por 2 segundos até que a ficha cai e vc se sente meio idiota de ter se perdido por aquele pequeno período de tempo. Mas fiquei ali na cama, do lado do Fabricius, que dormia profundamente. Era um domingo, cerca de 9 horas da manhã. E eu não ouvia nenhum barulho da panela de pressão do vizinho fazendo feijão. Não tinha aquela sinfonia que eu estava tão acostumada a ouvir, de várias panelas de pressão frenéticas em cada um dos apartamentos do prédio, principalmente no domingo! Aqui ninguém come feijão. Só os mexicanos, na verdade, mas é feijão enlatado, não vale... Feijão gostoso tem aquele temperinho, com alho e cebola refogado em (muito) óleo.
E aí me deu um aperto no coração, daquela falta que um som faz no dia a dia... e comecei a pensar em todos os sons que eu não ouvia nesses 7 meses que eu estou aqui. E, surpreendentemente, não foram poucos.
Pra começar, aqui não tem campanhinha. Simplesmente não tem. Em nenhuma casa que a gente já foi, em nenhuma rua que a gente andou, nunca mais ouvimos aquele ding-dong tão familiar... Não que seja agradável acordar com a campanhinha do vizinho pensando que é a sua, ou quando o porteiro vai entregar as regras do condomínio e vc precisa assinar, o que incomoda é a ausência de um som que vc tá muito acostumado... Aliás, aqui tb não tem porteiro.
E não tem criança brincando na rua. Não tem aquele corre-corre, aquela gritaria, junto com cachorro latindo, mãe/babá gritando junto, bola batendo no chão, som de bicicleta, skate, patins... Som de vida. Aqui não tem isso no seu prédio. Vc acorda e tá tudo calmo. Calmo até demais. As crianças aqui devem brincar nas escolas, que dura o dia todo. No final de semana, elas devem brincar nos parques reservados pra recreação. Ou ficar em casa mesmo, eu não sei. Só sei que elas não brincam na rua.
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As famosas cacatuas australianas |
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Lindo (e absurdamente barulhento) rainbow lorikeet |
Aqui tem até muitos pássaros, e eles são muito bonitos até! Tem aquelas cacatuas gigantes brancas de penachinho amarelo em tudo quanto é canto, tem o galah, que é um papagaio cinza com o peito cor de rosa muito bonito; tem o íbis que é um monstro gigante do bico enorme e fino que fica em toda e qualquer lixeira daqui; tem os rainbow lorikeets, que realmente impressionam pelo tanto de cores vivas; tem o kookaburra, que é bem simpático (acho que é o que eu mais gosto até agora...); e tem os corvos enormes em todos os lugares. Pássaro em geral é o q não falta. Mas falta muito um canto de pássaro que seja bonito. As cacatuas berram que parece que alguém tá morrendo. Os corvos gritam o tempo inteiro, os periquitos ficam brigando e gritando na janela do quarto. Os kookaburras são famosos pelo canto que parece uma gargalhada... Não tem nada como aquele “bem te vi... te vi” ou o assobio do sabiá. Até os pardaizinhos de Brasília tem um canto bonito... Enfim, pássaro escandaloso aqui é o que não falta. E, por mais chichê que seja, definitivamente as aves que aqui “gorjeiam” não gorjeiam como no Brasil.
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Ibis forrageando |
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Kookaburra - o pássaro mais feliz do mundo |